quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Via dei Fiume

Via dei  Fiume esq. com Lungotevere in Augusta

Sinto Roma como uma senhora soberba que esconde sua artrite dos fregueses que passam apressados diante de seu balcão. Há um contingente de “barbones” que cresce a cada dia à entrada do Termini Flamínio,  carregando seus sacos de roupa e  pertences higiênicos enquanto o inverno não resolve descer das montanhas de vez.  Junto às plataformas rodam várias ciganas, algumas grávidas, outras lactantes abraçando uma penca de bebês (chegam a acomodar três de uma vez só num carrinho Burigotto), pedindo esmolas e subtraindo com seus dedos ágeis as carteiras dos turistas alemães.  O Italiano médio aprendeu a ser frívolo nessa selva de albaneses, zíngaros, romenos, polacos e africanos. Todos usam a mesma fila pra aliviar a bexiga no único vaso da estação. Se considerarmos que toda a área foi alicerçada sob camadas e camadas de história romana e etrusca, pra onde flui toda essa energia?
Vejo os jornais de emprego e concursos públicos pendurados numa banca de revistas: o aeroporto de Fiumiccino anuncia  125 vagas para agentes aduaneiros. Uma adolescente de não mais de 15 anos  saca da sua mochila um maço de Camel enquanto folheia uma revista de variedades. E como  fuma com classe!
A menos de um quilômetro de onde estou fica a Piazza del Popolo, a convergência das ruas mais elegantes de Roma.  Gucci, Fendi, Cartier, Ferrari, e uma infinidade de pátina e cera que certamente desviará os olhares turistas destes joelhos  inchados e cansados que Roma esconde debaixo de sua saia..
(Via del Fiume 7.11.2010,  Hasselblad 500cm e distagon 50mm)

8 comentários:

  1. Você sabe, eu sempre gostei da sua visão fotográfica. Ao ler seus textos, o óbvio ululante fica ainda mais ululante: Ela é decorrente de uma vida incessante de buscas, pesquisas, inquietude cultural.

    Escreva sempre. Escreva mais!

    Abraço.

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  2. E já que estou aqui, vou aproveitar para um comentário amigo: Fundo marrom com fonte azul marinho não fazem bem para a visão.

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  3. Grazie Shiraga!!
    Eu preciso mudar mesmo essa cor da fonte. E digo ainda que suas palavras me deixaram animado. Num único dia a quantidade de estesias que atacam todos os sentidos é confuso. O bálsamo vem do céu, que é lindo. Mas se abrir muito o olho vc pode se cegar com uma titica de andorinha..
    Como vc tá?
    abraços!

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  4. Ok's,

    No fim é fato que nos primeiros dias após nosso "divórcio" geográfico me bate certa saudade de Roma. Inclusive do fétido banheiro na estação Flamínio. Aliás percebi umas brotejas esquisitas em meus dedos após tantas travadas e destravadas de ferrolhos daquela porta que garantia a privacidade a uma infinidade de momentos íntimos de conversas estomacais anônimas, solitárias e multiétnicas. Matutando aqui.

    Algo a ser aplicado em minha vida; a arte do "Io me ne frego un cazzo".

    Ciao, oder "tchüss" jetzt meine liebe!

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  5. OOOOOOMMMMMMMMGGGGGGggggggg........
    Kleine Schwülle..

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  6. Was??
    Scwülle bist du mit diese "OMG" internet vokabel!!! Ma va a fanculo, kleine schmetterling...
    P.S. eu ví ontem um certo banheiro no qual você ficou preso e teve que pular a janela para sair... A-rá!! ;)

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  7. Gostei muito da sua narrativa. Fico imaginando esse lugar onde o passado ainda se impõe por suas ruínas, relíquias, artes, etc...em meio à modernidade e tb à miséria humana, esta, mais secular ainda, mas que pode ser descrita através de uma observação poética, ainda que no âmbito escatológico e reumatológico.
    Continue sua busca Oliver, se socorrendo da visão celeste para clarear a confusão visual, quando esta acontecer, e lhe dar inspiração para continuar nos escrevendo neste blog. Abraço, Eliana.

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  8. Obrigado Eliana!
    Palavras boas de se ler.
    um abraço,

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