quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Piazza del Popolo

Piazza del Popolo, Roma 21.12.2010
Na Piazza del Popolo descobri que somos todos iguais em qualquer parte do mundo, e nossa  igualdade é uma equivalência “burra”, uma  “média puxada para baixo”, uma homogeneidade triste, morta e sem poder de transcendência. Pois  somos todos iguais não perante nossa fé e nosso desejo de imortalidade, o vânitas liberto pela passagem do tempo, mas justamente no recalque da coisa morta, dos seres frágeis que nos transformamos, inúteis e anacrônicos. A tecnologia  prometeu maravilhas efetuando o transporte de nossos corpos a distâncias incomensuráveis e a medicina, por sua vez, nos  libertou da dependência hereditária imposta pela fragilidade destes mesmos corpos. Hiperhumanos dispersos no espaço hipermoderno na conquista da hiperfelicidade oferecida pelos cartões de plástico chipados. Em algum momento o telefone deixou de ser instrumento de comunicação,  passando  a objeto de contemplação cercado de carícias dedilháveis frente a  satisfação insossa da prevalência da forma pela função. Em algum momento o carro nos aproximou da possibilidade de sermos completamente absorvidos em nosso envolvimento narcísico pelos gadgets de seu painel,  fazendo  de nós superdeuses da infovia sem necessidade nenhuma de transporte.  Em algum momento o mito da publicidade cobrou demais de nossa fé e não nos devolveu a essência dos objetos. Em algum momento a imagem rôta nos deu a informação que julgávamos necessários para suprir nossa existência e passamos a não nos alimentar mais com fubá e sim com Dona Benta, não beber mais líqüido e sim Evian, não sermos mais originais e sim Colgate, não fazer mais amor e sim Olla, não sermos mais felizes e sim politicamente corretos.
A coisa morta está na fragilidade dos mitos que em nosso automatismo paranóico recalcamos para não nos quebrarmos. Imagine saber que nossas rugas prenunciam o final de nosso tempo, imagine saber que nosso carro não se capitaliza quando o buscamos na concessionária, mas sofre deságio irreparável ao primeiro quilômetro rodado, imagine saber que  nosso câncer pancreático é alvo especulatório da indústria farmacêutica antes de qualquer manifestação de solidariedade. E assim devemos nos exacerbar, sempre acelerar, ultrapassar o próximo, superar as expectativas, ser uma seta ascendente na tabela performática, “be smart!!”, “be cool!!” , venha fazer parte de nossa equipe de vendas!!!
Ontem visitei o Museu Nacional Etrusco Villa Giulia, próximo aos Jardins da Villa Borghese. O Ministério da Cultura Italiano investe pesado nas pesquisas e manutenção dos museus (o que aconteceu em Pompéia parece  exceção, não que eu admire Berlusconi), e algo me surpreendeu: em câmaras mortuárias etruscas desencavadas na região de Vulci, bigas eqüestres eram sepultadas junto a outros pertences  indicando o status social do falecido.  Quando eu for pro céu quero levar meu Maverick junto.