sexta-feira, 25 de março de 2011

Hauptbanhof Frankfurt

Münchener Str. Estação Central, Frankfurt

Tem um trem que sai pra Bucareste  meia noite. Uma hora depois segue outro em direção à Praga. O de Amsterdam sai quinze minutos depois  daquele que vai pra Nápoles. Perto da estação central um leque de hotéis, dos pulgueiros de última categoria aos pós-modernos como da rede Radisson. Gosto do Radisson construído dentro do Termini de Roma com suas paredes de vidro  fundindo-se à plataforma de trem: um lounge protegido por vidro fumê, dois pianos de cauda, cadeiras de ratan e poltronas de sobriedade oriental. Você desembarca de um trem regional ou de uma conexão de Varsóvia, não importa, e o portão à sua frente, convidativo, minúsculo, escondendo um mundo de lassidão a preços inacessíveis.
A de Berlim é ameaçador. É como se fossem três estações de trens superpostas em camadas, uma em cima da outra, dentro de um polígono de aço, titânio e vidro com a visão do parlamento alemão ao fundo. A primeira coisa que se lê no desembarque: “daqui se rege a vontade do povo”
A de Frankfurt talvez tenha mais algo a ver com a de Roma: são os quarteirões em volta com seus estabelecimentos multiétnicos. Produtos filipinos, iranianos, libaneses e argentinos.   A distância do solo natal  nem sempre impõe carências de paladar e olfato.  Nada mais coerente: na saída da estação rodoviária Novo Rio, misturado aos interstícios das passarelas e elevados é onde estão os barracos da  buchada  de bode e mocotó. No velho continente a mesma coisa, atrás dos cubos gigantes de aço e vidro de Koolhass  escondem-se as barracas imbiss onde chiam os churrasquinhos de gato.  Talvez e de forma silenciosa a corrente migratória da humanidade venha  ocupando  a escuridão destes nichos na tentativa de se sentir em casa.  A pátria poderia ser apenas uma informação destacável e portátil?  Isso mesmo. Pátria portátil? Não é que vivemos a desreferencialização dos nossos valores, é que vivemos a desterritorialização de nossas referências.

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